O messianismo na política ainda é um elemento que está poderosamente enraizado na mente dos brasileiros. Nosso povo, mesmo nos dias de hoje, ainda espera ansiosamente por um grande líder que salvará o nosso país da miséria, da corrupção e do subdesenvolvimento. As raízes desse sentimento estão possivelmente ainda no final do século XVI, no sebastianismo português (a crença no retorno do rei Dom Sebastião, desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir, e na redenção de Portugal, que se tornaria o Quinto Império).
Tivemos ao longo de nossa história grandes "salvadores da pátria" que surgiram para resolver os grandes problemas de nosso país. Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Lula... Nos dias de hoje, vários políticos e não políticos surgem e são fortemente aclamados como os nossos salvadores (o próprio Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, João Dória, Luciano Huck...). Mas será mesmo que apenas um indivíduo é capaz de resolver os problemas do Brasil?
Temos um Estado inchado, com um senado composto de 81 parlamentares, mais uma câmara com 513, além dos governos estaduais, assembleias legislativas, as milhares de prefeituras, câmaras de vereadores e todo o poder judiciário. E toda essa máquina está contaminada de corrupção e vício. Um presidente absolutamente não tem o poder de mudar tudo isso. Vimos recentemente que o congresso tem poder para facilmente destituir um presidente na hora que quiser.
Nosso país tem problemas em todos os setores, em todos os níveis e em todas as esferas. O país é muito grande, a população é gigantesca, os problemas vêm de muito longe. Somos um país que começou errado. Um país cheio de contradições e de dívidas históricas. Somente um esforço conjunto pode dar algum resultado. Mas a experiência já nos mostrou que um presidente por si só não é capaz de mudar o país. Tivemos presidentes de esquerda, de direita, mulher, nordestino, rico, pobre, culto, inculto e os problemas persistem.
Somente um projeto político inovador, que inclua um trabalho de conscientização e educação da população (no sentido mais amplo que a palavra educação possa ter), pode verdadeiramente mudar o nosso país. Não um homem ou uma mulher, mas um projeto novo, uma nova visão de mundo, um programa. Um programa que promova um esforço coletivo, um trabalho conjunto que una a sociedade em torno de um objetivo comum. Esse projeto não será de forma alguma algo fácil de se elaborar e executar, mas é o único caminho para o nosso país.
Sou capaz de garantir que se houver um projeto como esse, completo, tal como está proposto aqui, não terá muita importância quem será a pessoa que estará provisoriamente à frente do processo (um mandato de presidente é bastante curto para as mudanças que precisam ser realizadas no país).