O Liberalismo aposta na virtude dos empresários
A doutrina conhecida como liberalismo social parece mesmo muito bonitinha. Prega igualdade social, mas afirma que o caminho para isso é pelo capitalismo "humanizado". Toda aquela história bonitinha de "mão invisível do mercado" funcionaria muito bem, se não fosse por um pequeno problema: os empresários não são bonzinhos! As grandes empresas só querem dinheiro. São gananciosas. Mesmo os projetos sociais e de sustentabilidade que as empresas desenvolvem são parte de uma estratégia de marketing. Uma equipe de um departamento de marketing decide: "Precisamos criar uma imagem positiva da empresa. A melhor forma de conseguir isso é criando um projeto social ou fazendo uma doação para o Teleton. Vamos fazer isso!" Acredite, não é caridade pela caridade. É um investimento. E eles doam com uma mão e tiram com a outra, quando lesam o trabalhador em seus direitos, quando enganam o consumidor, quando sonegam impostos. Não podemos confiar a missão de mudar o nosso país nas mãos dos empresários. Leis trabalhistas precisam existir, leis de proteção ao consumidor têm que existir, leis ambientais têm que existir para impor limites às grandes empresas.
E o Estado? É virtuoso?
A direita, em contrapartida, acusa a esquerda de apostar na virtude do Estado. Talvez uma parte da esquerda realmente cometa esse erro. Mas é um erro. Os políticos também não são bonzinhos (tenho a sensação de estar sendo óbvio demais...). O Estado tem o papel de administrar os limites entre as liberdades. O grande problema é que os políticos são corruptos. Os políticos representam, na maioria das vezes, os interesses do capital. Eles são financiados pelas grandes empresas. E as empresas financiam os políticos esperando benefícios em troca. E os políticos, por sua vez, governam para as grandes empresas, não para o povo.
O que fazer, então?
Talvez a solução para esse impasse seja a luta por uma democracia plena. O poder popular é a única forma de se garantir que os nossos direitos não sejam violados e que haja igualdade social. A Constituição Federal, no seu artigo 1º, parágrafo único, diz que "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente..."(grifo nosso) Ou seja, a constituição prevê que o povo pode exercer diretamente o poder. Mas quais são os instrumentos e dispositivos legais que possibilitam isso? É preciso que sejam criadas leis e feitas emendas constitucionais que possibilitem que o povo exerça diretamente o poder. Os governos têm que governar para os mais fracos, não para os mais fortes. São os mais pobres e mais excluídos que precisam de governo.
Como o povo pode ser empoderado?
O povo não pode exercer poder enquanto não tiver conhecimento e educação. Mas não é a escola que carrega sozinha a responsabilidade de educar o povo. Educar é papel de várias instituições, inclusive os movimentos sociais. Educamos as pessoas divulgando o conhecimento, conscientizando pessoas, dialogando com o povo. Nossa população mais pobre hoje está defendendo as ideias e os interesses de seus maiores inimigos. Os conservadores mais reacionários têm recebido grande apoio e aplauso das massas excluídas, que acreditam serem eles os seus salvadores. O povo não tem conhecimento, e por isso erra. O povo precisa ter a consciência de seu papel, de sua força, e depois exercer o poder.
Por que o povão tende para o conservadorismo reacionário?
Um grande problema das esquerdas de nosso país hoje é o academicismo. Intelectuais de esquerda hoje sentam em roda para discutir teoria, discutir Marx, com seus jargões e sua linguagem acadêmica e sentem suas consciências tranquilas, achando que estão fazendo a sua parte. Enquanto toda essa discussão não consegue atravessar as paredes da Academia, as favelas aplaudem os Bolsonaros da vida. Os intelectuais precisam deixar a sua indolência e dialogar com as massas antes que seja tarde demais. Nenhuma revolução se faz dentro de universidades, mas nas ruas, com a força das massas.