Vivemos em uma época de extraordinário avanço científico e tecnológico. A ciência fez grandes descobertas, realizou coisas que nos séculos passados eram inimagináveis, e com isso vem contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Paradoxalmente, a humanidade ainda tem que lidar com problemas antigos, como a pobreza, a intolerância, a desigualdade, a violência, o preconceito, a discriminação, o fanatismo.
No livro Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade, a professora Maria Cecília de Souza Minayo diz o seguinte: "Para problemas essenciais, como a pobreza, a miséria, a fome, a violência, a ciência continua sem respostas e sem propostas"¹. Ou seja, segundo ela, a ciência ainda não foi capaz de fornecer respostas ou propor soluções para esses problemas. Eu me pergunto: será mesmo? A ciência é realmente impotente em relação a essas questões?
A época em que estamos vivendo é uma época riquíssima em termos de conhecimento científico e acadêmico. O mundo é pontilhado de universidades e centros de pesquisa. Em todo o planeta, em todas as grandes cidades, um grande volume de conhecimento científico é produzido diariamente. São inúmeros estudos, artigos, teses e dissertações, palestras e conferências produzidos em várias partes do planeta em grande quantidade. Eu arriscaria dizer que hoje a humanidade dispõe de uma quantidade bastante satisfatória de conhecimento científico, suficiente para que possa proporcionar muita qualidade de vida para todas as pessoas. Ainda que haja muito a se descobrir, estamos hoje em um nível bastante avançado de conhecimento científico.
Sendo assim, eu não posso acreditar que não exista conhecimento suficiente para que se possa encontrar uma solução para problemas como a miséria, a desigualdade social e a violência. Com um esforço consciente e direcionado para esse fim, eu não creio que fosse impossível resolver esses problemas, e em um prazo não muito longo. Logo, qual a razão para que esses problemas ainda existam?
Ao longo da história recente da nossa civilização, podemos ver claramente que não existe o interesse por parte daqueles que detêm o poder em resolver esses problemas. Há setores da sociedade que têm interesse direto na manutenção da desigualdade e da ordem atual das coisas. Setores dominantes que querem continuar dominantes a qualquer custo. Setores que colocam os interesses econômicos acima do bem estar e da felicidade da coletividade. Portanto, a miséria, a desigualdade social e a violência não são uma questão de conhecimento científico, mas de política.
Os governos têm o poder de solucionar problemas aparentemente insolúveis. Bastaria fazer com que a produção acadêmica fosse aplicada a essa finalidade, na busca de soluções, na criação de projetos que fossem capazes de eliminar esses problemas. A ciência talvez não tenha respostas exatas, soluções mágicas ou fórmulas prontas para resolver todos os problemas, mas é capaz de identificar as causas dos problemas e de apontar o caminho para a sua resolução. No entanto, raramente os poderes institucionais demonstram qualquer interesse em se aproximar da intelectualidade e da academia. Alguns chegam até mesmo a temer que essa aproximação possa conferir poder à comunidade científica, poder esse que representaria uma ameaça ao seu poder, à sua condição dominante e aos seus interesses.
É incrível como há tantos anos a ciência tem a resposta para as questões ambientais, tem mostrado o caminho para a preservação do planeta, mas os interesses econômicos e políticos ainda travam o progresso nesse sentido. É incrível como o mundo produz tanta riqueza, mas a maior parte dela ainda se concentra nas mãos de tão poucos.
Não podemos cobrar da ciência a solução. A ciência vem fazendo a sua parte, vem cumprindo o seu papel, tanto as ciências humanas quanto as ciências da natureza. É sobre a política que deve recair o peso da culpa por esses males da humanidade. Falta o interesse em se mobilizar os poderes institucionais, em se unirem forças para o confronto a esses problemas.
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Publicado na revista eletrônica Referência.
1. MINAYO, Maria Cecília. O Desafio da Pesquisa Social. Em: Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
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Publicado na revista eletrônica Referência.
1. MINAYO, Maria Cecília. O Desafio da Pesquisa Social. Em: Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
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