terça-feira, 27 de setembro de 2016

Entrevista com Bruno Fernandes, candidato a vereador de Olinda

Bruno Fernandes é candidato a vereador de Olinda pelo PSOL - Partido Socialismo e Liberdade. É professor, tem 32 anos, é casado e tem três filhos. Formado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-graduando em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.

É a primeira vez que você é candidato. Quais as suas expectativas em relação a estas eleições? Você espera ser eleito?
Eu hoje sou dirigente municipal do PSOL. Tenho um carinho muito grande pelo partido. O que me levou a escolher o PSOL foi primeiramente o seu programa, as bandeiras que o partido defende. O PSOL é um partido de esquerda, anticapitalista, antirracista, feminista, antiproibicionista, ecossocialista, trabalhista, humanista e libertário, que defende a igualdade social e a emancipação humana acima de tudo. E em segundo lugar, o que me levou a me filiar ao partido foi o desejo de fazer algo pela minha cidade, que desde que eu me entendo por gente tem sido negligenciada pelo poder público. Olinda é uma cidade importantíssima para a história do nosso país, mas quando você anda pelos bairros da cidade você se sente em um cenário de pós-guerra. Isso sempre me angustiou. Por essa razão eu decidi agir, fazer algo para tentar mudar a minha cidade. Este ano eu decidi me candidatar a vereador a fim de me colocar como uma opção para o povo olindense, propondo-me a ser uma voz ativa na câmara em favor dos interesses da população, especialmente os menos emancipados. Tenho consciência das dificuldades. Não disponho de muitos recursos para investir em minha campanha. Mas mesmo que eu não venha a ser eleito, eu já me sinto satisfeito em poder discutir os problemas de Olinda sob uma ótica humanista e libertária. Em nossa campanha, estamos tendo a oportunidade de conversar com as pessoas nas ruas. Estamos discutindo a nossa cidade, propondo soluções. Poder dar essa contribuição já significa muito para mim.

Qual a sua opinião a respeito da câmara dos vereadores de Olinda hoje?
Nós temos hoje uma câmara omissa. São 17 vereadores que simplesmente não cumprem seu papel de fiscalizar a prefeitura. Não existe uma oposição na câmara. O papel do vereador é justamente cobrar que a prefeitura atenda às necessidades da população, fiscalizar o uso dos recursos do município e elaborar projetos de lei relevantes para a cidade. A câmara hoje é campeã em conceder títulos de cidadão olindense. Os projetos de lei apresentados são os mais inúteis que se pode imaginar. Além de que há vereadores que se mantêm hoje no poder através de assistencialismo eleitoreiro. Vivem a fornecer ambulância para um ou para outro, fazer favores, dar presentes. O vereador que é mais conhecido por esses favores é também o mais ausente hoje na câmara. Mas no seu jingle de campanha, ele se orgulha de ajudar quem perdeu um ente querido, quem precisa de ambulância, e ainda ameaça sutilmente: "imagine se esse trabalho parar?" O povo de Olinda precisa de vereadores que cumpram seu papel, que cobrem que a prefeitura faça o seu trabalho. Mas hoje temos 17 vereadores completamente inúteis.

O que você pretende fazer como vereador?
Primeiramente, estamos nos propondo a fazer um mandato participativo e combativo. Participativo, porque queremos levar para a câmara as demandas do povo. E estamos ouvindo essas demandas. Em nossa campanha, já visitamos quase todos os bairros da cidade e conversamos com várias famílias e indivíduos. Queremos cumprir o papel do vereador de representar o povo na câmara. E combativo, porque estamos dispostos a denunciar o descaso para com a cidade. Estamos dispostos a cobrar que haja investimentos em educação de qualidade em Olinda, que o SUS possa atender de forma eficaz um número maior de cidadãos, cobrar saneamento básico, segurança, mobilidade, desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente.
Em segundo lugar, temos propostas de projetos de lei importantes para a cidade. Um deles, que eu considero prioritário no nosso futuro mandato, é a criação do Plano Municipal de Educação em Direitos Humanos. Esse plano seria composto por metas específicas para a educação de modo a construir em Olinda uma cultura de direitos humanos. Para que a educação cumpra seu papel de promover a igualdade social, eliminar toda forma de discriminação e formar cidadãos conscientes e livres. Temos também propostas para a defesa dos direitos da mulher, para combater o racismo institucional, a intolerância religiosa e a homofobia. Além disso, propostas para o aperfeiçoamento do SUS em Olinda.

Caso você seja eleito, será a primeira vez que exercerá um cargo público. Como você pretende alcançar de forma satisfatória esses objetivos?
Nós sabemos exatamente o que queremos fazer em nosso mandato. Temos consciência da magnitude da tarefa, da importância desse cargo. Portanto, eu não pretendo usar os cargos comissionados como moeda de troca, não pretendo lotear os cargos entre amigos e companheiros de partido aleatoriamente. Por isso foi importante termos feito uma campanha independente, sem prometer nada a ninguém em troca de apoio. Nossa equipe de gabinete será formada de acordo com critérios estritamente técnicos. Teremos pessoas com expertise em saúde pública, educação, engenharia e outras áreas. Queremos montar uma equipe competente, que possa atuar de forma exemplar na condução das tarefas do nosso mandato. Afinal, nos quatro anos do mandato teremos a missão de promover uma verdadeira revolução na câmara de Olinda, fazer o que jamais foi feito. Tenho a consciência da limitação da atuação de um vereador, sei que um único vereador não pode sozinho mudar a cidade. Mas sei também do muito que pode ser feito, por isso estamos dispostos a fazê-lo.

Como você vê a educação em Olinda atualmente?
A educação em Olinda está completamente esquecida. Temos um plano municipal de educação que não sai do papel. As escolas municipais são as mesmas de quando eu era criança. Nada se fez para melhorá-las. Sócrates já dizia na Antiguidade que a sociedade só pode ser aperfeiçoada por meio da educação. Mas em Olinda hoje a educação está sucateada. Queremos visitar as mais de cinquenta escolas municipais uma por uma. Vamos cobrar melhorias, não apenas estruturais, mas na qualidade do ensino, com mais professores, com formação continuada para os mesmos, além de uma remuneração digna. Vamos cobrar que haja as condições para que os alunos permaneçam na escola, como transporte, materiais escolares, fardamento e merenda de qualidade. Daremos atenção também à educação para jovens e adultos. Olinda não vai avançar sem que se dê atenção especial à educação.

E quanto à segurança?
O povo olindense vive escravo do medo. A criminalidade é grande, tanto nas áreas nobres, onde costuma haver uma violência assustadora, como nas periferias. Conversei com pessoas em bairros como Jardim Atlântico, Vila Popular, Cidade Tabajara, Sítio Novo, Salgadinho, e todos fizeram a mesma queixa: A frequência de assaltos é assustadora. A área do Complexo de Salgadinho é extremamente insegura. Não se pode andar tranquilamente por ali. Mas os bairros mais nobres, como Bairro Novo e Casa Caiada são igualmente perigosos. É preciso que se invista em segurança em Olinda. O olindense precisa ter garantido o seu direito de ir e vir.

Em relação à saúde, quais são hoje os maiores problemas?
É preciso que o SUS funcione da maneira correta. O sistema de saúde no Brasil é um dos melhores que existem no mundo, mas infelizmente na prática é extremamente precário. Os postos de saúde e as unidades de saúde da família não atendem a uma parcela satisfatória da população, faltam materiais e medicamentos, faltam médicos. Sabemos da escassez de recursos no município, mas isso não pode servir de desculpa. O SUS em Olinda pode funcionar muito melhor.
Um problema muito sério que existe hoje em Olinda é a falta de maternidades públicas. As mulheres olindenses hoje não têm onde parir seus filhos. A maternidade Brites de Albuquerque está fechada. É preciso garantir que as mulheres olindenses possam ter seus filhos aqui.

Você sempre se posiciona a favor da liberdade religiosa. Por que você considera este tema tão importante?
Primeiramente, crença é algo muito pessoal. Uma crença não pode ser imposta a alguém. Cada um precisa ser livre para crer ou não crer no que quiser. A crença faz parte da identidade de cada indivíduo. Violar a liberdade de crença de alguém é mutilar sua condição de ser humano livre. E nossa cidade precisa ser uma cidade para todas e todos. Portanto, deve haver todas as condições para que todo cidadão possa ser feliz e viver da maneira como considera a melhor, sendo respeitados os direitos de cada um. Por isso, o Estado laico é algo tão importante. A religião não pode se misturar à política. Sempre que acontece essa mistura, o resultado é desastroso. Sendo assim, nós defendemos a plena liberdade religiosa. Defendemos especialmente os direitos dos grupos mais excluídos, mais estigmatizados. No caso de Olinda, as religiões de matriz africana são as que sofrem maior perseguição e discriminação. Exigimos o reconhecimento desses cultos como religiões, não menos importantes que quaisquer outras. Estamos dispostos a combater toda forma de perseguição às religiões de matriz africana ou a qualquer outra religião. Combateremos toda tentativa de imposição de princípios de uma determinada religião. Olinda tem que ser a cidade dos católicos, evangélicos, budistas, muçulmanos, umbandistas, candomblecistas, ateus, agnósticos e todos os outros. Que cada um tenha o direito de praticar sua religião, viver suas crenças ou mesmo não crer em nada, caso assim deseje.

Como você acredita que Olinda pode verdadeiramente crescer?
Todos esses temas que nós discutimos até aqui são importantes para um desenvolvimento social de Olinda. É preciso também que a cidade se desenvolva economicamente. Olinda precisa deixar de ser uma cidade dormitório. É preciso fomentar, de modo responsável, a atividade econômica. O povo olindense precisa ser um povo empreendedor. Para isso, a educação e a formação profissional são muito importantes. O incentivo ao empreendedorismo e o microempreendedorismo são também fundamentais. As áreas que têm o potencial de se tornar grandes centros comerciais precisam de um cuidado e uma atenção especiais. Mas a cidade precisa crescer, como eu disse antes, de forma responsável. Trazer um shopping center para Olinda não é o suficiente para a cidade crescer. É preciso que a cidade se desenvolva como um todo, tendo sempre o cuidado em relação ao meio ambiente e às pessoas. Não podemos viver para sempre nos lamentando por Olinda ser uma cidade pobre. Essa realidade precisa mudar.

Finalmente, por que o olindense deve votar em você?
Como expusemos aqui, nós temos propostas. Temos um projeto para Olinda. Nossa candidatura é séria, responsável, comprometida com a cidade e com o povo. Não temos rabo preso com ninguém. Caso cheguemos à câmara, nosso mandato estará a serviço dos olindenses, não de empresas ou de outros partidos. O povo de Olinda precisa participar da vida política da cidade, e nós daremos as condições para que isso aconteça. Temos propostas realistas, mas ao mesmo tempo não abandonamos o sonho de uma cidade ideal. O sonho tem que existir. Sonhamos com uma cidade justa, igualitária, uma cidade em que todas e todos, independente de cor, gênero, orientação sexual ou religião, possam ser felizes segundo seu próprio conceito de felicidade. Pedimos ao povo de Olinda que se junte a esse projeto. Que possa vir sonhar e lutar junto conosco. No dia 2 de outubro, vamos votar 50500.

(Entrevista concedida em 27 de setembro de 2016.)

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